Iniciativa buscou dar atenção à fauna que reside, adentra e transita pelo local, de modo a evitar ou mitigar impactos negativos da execução da obra aos animais

Um esforço coletivo para dar atenção à fauna que estava ou passa pela área do Campus Arandu da Universidade Federal da Integração Latinoamericana (UNILA) permitiu o manejo de 81 animais de 25 espécies neste primeiro mês de retomada das obras. As principais classes encontradas foram de répteis, aracnídeos e mamíferos – que, juntas, representam 80% dos atendimentos. O trabalho, realizado em parceria entre o Consórcio MPD Ankara e o Refúgio Biológico Bela Vista da Itaipu Binacional, com apoio do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS), mostra que é possível pensar em infraestrutura com respeito à biodiversidade local.
Toda a limpeza do terreno contou com supervisão e apoio de uma equipe especializada, que seguiu as normas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Água e Terra (IAT) do Paraná para afugentamento e resgate da fauna, com o uso de equipamentos e materiais de manejo adequados para tal finalidade.
O trabalho também passou pelas etapas de planejamento e reconhecimento de campo, identificando possíveis ninhos e tocas, e de mapeamento de pontos estratégicos de soltura, com o apoio do Refúgio Biológico da Itaipu, para garantir a segurança dos animais antes da entrada dos maquinários da obra. Outras técnicas de produção de sons também foram empregadas para afugentar a fauna de médio e grande porte, prevenindo acidentes.
Bruna Galindo, bióloga que liderou os trabalhos pelo consórcio MPD Ankara, explica que a ação estabelece um padrão elevado para a proteção da vida silvestre durante atividades da construção civil de grande porte, como o novo campus da UNILA. “Todo o trabalho de limpeza do terreno foi acompanhado pela equipe de proteção e resgate de fauna, o que nos permitiu responder de forma rápida às necessidades dos animais e reduzir possíveis danos à biodiversidade local”, pontuou. Ela também destacou a importância da boa comunicação entre todas as pessoas envolvidas na atividade.
A Head de Meio Ambiente, Qualidade e Inovação na MPD Engenharia, Caroline Abreu Head de Meio Ambiente, também reforçou que obras desta magnitude, realizadas em um local de proteção ambiental, exigem planejamento e integração entre todos os envolvidos para assegurar que desenvolvimento e preservação caminhem lado a lado. “Essa iniciativa reflete o compromisso da MPD com a responsabilidade socioambiental e com a execução de projetos de forma sustentável”, completou.

A maior parte dos animais encontrados, cerca de 65%, foram resgatados e soltos nas áreas mapeadas (as chamadas áreas de soltura), enquanto outros 20% foram afugentados, ou seja, conduzidos naturalmente a habitats seguros no entorno. Outros 10% foram apenas avistados e menos de 5% precisaram de resgate e acionamento de equipe veterinária do Refúgio Biológico Bela Vista, da Itaipu, devido a ferimentos identificados previamente e que não tiveram relação direta com as atividades da obra.
O licenciamento e a compensação ambiental do terreno foram feitos na primeira fase da construção, em 2012, conforme estabelecido pela legislação. Entretanto, ao longo dos anos em que a obra do novo campus ficou parada, a vegetação voltou a crescer, aumentando também a probabilidade de incidência de animais. Com isso, foi exigido do consórcio vencedor da licitação a contratação e presença de profissionais habilitados para as inspeções e liberação das áreas antes e durante as atividades realizadas pelos maquinários. Atualmente, além da fauna, há o predomínio da espécie exótica conhecida como leucena.
Para o gerente de projetos do UNOPS Rafael Esposel, a ação demonstra que, com planejamento e responsabilidade, o avanço da infraestrutura e o desenvolvimento econômico podem coexistir com a fauna local. “Esperamos que a experiência do Campus Arandu sirva como um modelo inspirador de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente”, diz.
O veterinário Pedro Teles, do Refúgio Biológico Bela Vista, da Itaipu Binacional, acrescenta que será feito o monitoramento da fauna a longo prazo, para a verificação de eventuais novas rotas e fluxos de passagem de animais no entorno da universidade. “Infelizmente, a gente não consegue explicar para os animais que eles não podem mais utilizar essa ou aquela área, por isso, além de realizar o devido resgate e afugentamento, é preciso fazer um trabalho gradual para que a fauna passe a utilizar novas rotas de trânsito e novos lugares de ocupação”, explica. “Então, para isso, já realizamos pequenas intervenções que vão deslocar esses animais para um lugar mais seguro, ao invés de fazer logo uma grande intervenção e correr o risco de o animal entrar no canteiro de obra.”
“As ações do Refúgio Biológico na obra da UNILA demonstram o cuidado e a preocupação da Itaipu com seu entorno natural. Além de financiar a obra, a empresa presta suporte para as ações ambientais no campus, que está instalado em um espaço cedido pela usina, uma área de proteção ambiental”, completou Gisele Ricobom, assistente do diretor-geral brasileiro de Itaipu e representante da empresa no Conselho Executivo do projeto de retomada da obra Niemeyer – Campus Arandu.